25/09/2021
Paula A. Caetano da Silva
5 de agosto de 2022
Aperitivo 5º VI E2
Cordada 1: Paula e Kyra
Cordada 2: Leo Waisman (guia) e Lucinha (participante)
25 de setembro de 2021
Não lembro bem quando surgiu essa ideia, talvez no final de abril de 2021, quando estávamos recém saídos da pandemia e ávidos por escalar. Se não me engano, o convite surgiu do Alex Ferreira. Acho que o plano inicial era fazermos em maio/2021, uma cordada dele com o Beto e uma minha com a Kyra. Nesse momento, eu e Kyra já estávamos bem entrosadas, escalávamos todas as terças-feiras no Cantagalo no corujão por conta do home office, lembro bem quando começamos em fevereiro de 2021 e da nossa insegurança em revezar a paixão de Cris, rs! Traçávamos um plano, escolhíamos uma via para revezar, e na semana seguinte voltávamos invertendo a guiada dos esticões.
Mas voltando à Aperitivo, não lembro bem porque (chuva ou agenda), na verdade acho que foi medo mesmo rs, não rolou em maio, mas sempre ficava no nosso “radar”. Perguntamos ao amigo Leo Waisman, que já tinha guiado a via duas ou três vezes antes, qual o melhor preparo para a Aperitivo, e ele, simplesmente respondeu – escalar na serra. Fizemos então diversos bate-voltas na serra, mas sempre adiávamos esse objetivo, afinal, precisávamos treinar aderência, ganhar conforto em vias de maior exposição – nossa meta era um intensivão no contraforte do Corcovado (que nunca rolou – por questões de agenda, para variar). Em algum momento decidimos que tínhamos que fazer, e chamamos o Leleo para uma segunda acordada, foi quando fechamos a data: 25 de setembro (após a segunda dose da vacina contra covid). Ah, esqueci de mencionar, tanto eu quanto a Kyra já havíamos escalado os 500m da via participando com certo conforto, ela em 2017 com Leo e eu em 2018 com o Leandro Collares, mas era uma via E3, com lances loooongos e isso era o que mais preocupava.
Seguimos escalando bastante juntas ao longo de 2021, guiamos/revezamos vias que eu nem pensava em guiar um dia, como “As de espadas”, “Alfredão”, “Urbanoide” (essa ainda estou devendo alguns trechos hahahaha), dentre muitas outras aventuras na serra – a vista, enfim, um repertório que foi crucial para nossa “empreitada” na Aperitivo.
Eis que chega o grande dia…
Saímos do Rio (Eu, Kyra, Leleo e Lucinha), fomos em direção ao posto do garrafão (onde estacionamos) e seguimos para a trilha de aproximação, que entre estrada e trilha (boa parte pelo rio seco) deve ter demorado 1h. Chegamos na base e começamos a nos equipar, lembro que a ideia era colocar o Leo e a Lucinha na frente, pois o Leoleo já tinha guiado essa via toda antes, mas ele estava bem parado e invertemos. A Kyra iniciou a escalada, tínhamos “planejado“ assim pois dessa forma eu guiaria os esticões pares (lembrava vagamente de alguns lances nos esticões ímpares que eu não queria guiar). Porém, a corda era de 70m e, como a Kyra acabou passando a primeira parada, e com isso na sequência eu acabei ficando com os esticões ímpares. Leo e Lucinha vieram logo atrás. Cheguei na Kyra e fui tocando, também passei um pouco da parada (francesamos pequeno trecho, até cogitamos continuar, mas o Leo e a Lucinha não queriam francesar, então não fez sentido continuarmos assim, pois o plano desde o início sempre foi manter as cordadas juntas). Desse ponto que parei, chamei a Kyra e ela terminou de guiar a parte “fácil” da via até a P4. Pronto, terminamos a parte fácil da via, parte essa que algumas pessoas optam por escalar em simultâneo.
A partir da da P4 é quando a brincadeira começa de verdade, a sujeira da via atrapalha, saída em fator com grampo longe (chuto uns 15/20m) e já dois “mini-crux” de 5° nesse esticão. Esticão esse que eu não queria guiar, mas era minha vez e nosso plano era cada uma “segurar o seu b.o.”, assim ninguém ficava sobrecarregada. Foi melhor do que eu esperava (acho que estava empolgada), a via estava suja, usei uma escova para limpar alguns lances e pouco tempo depois estava na P5, e chamei a Kyra. Agora o próximo esticão era dela – esticão do crux – um VI protegido, e talvez pior para o participante. Kyra saiu guiando bem, mas um pouco antes do crux escorregou e parou no grampo, foi só um pequeno susto, ela parou e leu como deveria fazer o lance e seguiu sem titubear, depois passou pelo crux de VI sem ao menos descobrir o local exato, passou fácil! Eu vim atrás sem muitos problemas, pois esse lance o Leandro (quando foi comigo em 2018) tinha me dado todas as dicas e eu lembrava bem.
Os sétimo e oitavo esticões não tinham “lances” marcados no croqui, mas eram sujos, e tinham lances mais expostos ainda, que merecem boa leitura, não dava pra traçar uma reta para o grampo seguinte. Se fizer isso, pode se dar bem mal. Esse sétimo esticão me desgastou bastante psicologicamente, estava sujo, eu parei para limpar um lance longe do grampo, escorreguei de leve, até que desisti de usar a escovinha, o melhor era acreditar e tocar, fiquei bem aliviada quando cheguei sem quedas na P7. Chamei a Kyra e logo que chegou ela saiu e tocou o oitavo esticão, esticão que tinha alguns lances em móvel, mas ela foi super bem, era nítido que ela estava melhor e menos cansada psicologicamente que eu. Em seguida ela me chamou e cheguei na P8. Restava apenas mais um esticão para eu guiar. O Leo estava cansado e tinha se distanciando um pouco de nós, conversamos para esperar ele, mas eu estava cansada psicologicamente e com certo receio de guiar o esticão seguinte (medo rs). Peguei o restinho de coragem que tinha e falei: vou sair e costurar o próximo grampo, para não esfriar e dê lá fico parada esperando o Leo e a Lucinha. Foi a melhor decisão, não foi fácil chegar nesse grampo, mais uns 15m de exposição, e depois a saída desse grampo tinha mais um lance vertical de 5°. Assim que o Leo chegou na Kyra, eu decidi continuar, estava focada em não deixar o medo e o cansaço me fazerem desistir, fui na fé e deu tudo certo. Cheguei na P9 aliviada com a sensação de dever cumprido, montei a segurança e puxei a Kyra. Ufa! Um alívio, nossa meta quase cumprida, faltava apenas o último esticão, que a Kyra saiu para guiar sem problemas, foi subindo, pegou uma canaleta e depois não sabia bem por onde ir para o final da via. Lembro que tinha um grupo descendo o Escalavrado e ficou orientado ela a chegar no último grampo da via (inclusive uma dessas pessoas é um novo sócio do clube, Gabriel Lousada), o lance estava exposto, mas ela nem sentiu, logo depois chegou nesse último grampo e me chamou. Lá comemoramos muito, tinha sido nosso primeiro grande projeto, e achávamos que nem tínhamos nos preparado tanto para tal. Foi uma sensação indescritível, eu jamais imaginei revezar uma via de quase 500m E3 graduada em 5° VI. Logo depois Leo e Lucinha chegaram e a comemoração foi conjunta. Foram pouco mais de 4h de escalada.
Estávamos cansados, e por isso não fizemos a trilha final até o cume. De onde termina a via decidimos descer pela trilha, que foi tranquila, mas com certo congestionamento de pessoas, vários grupos descendo ao mesmo tempo. No final da descida, onde se pode fazer dois rapeis, havia uma fila de pessoas para descer, dentre elas um grupo da Unicerj. Quando chegou a nossa vez de rapelar, nos sugeriram emendar uma das nossas cordas com a deles para acelerar o rapel – não pensamos duas vezes e assim, por fim, conseguimos acelerar a descida. No fim deu tudo certo e chegamos cansados no carro, porém muito felizes, já planejando a empreitada da próxima temporada “Infinita Highway”.