RESPONSÁVEL
DATA DA ATIVIDADE

08/09/2024

RELATO POR

Cecília Ferreira da Silva

PUBLICADO EM

14 de setembro de 2024

CATEGORIA

Soma de todos os medos
Dia: 08/09/2024
Local: Cantagalo. Petrópolis.
Guias: Ciça Ferreira/Letícia Bimbi

A vontade de fazer a Soma surgiu em junho de 2023. A ideia era fazer algumas cordadas femininas (Eu, Bimbi, Jessika, Rê, Gabi, Paulinha e Alice Souto), mas
como sempre cruzar as agendas e o óbvio medo da via nos afastaram do alvo. Decidi que eu só tentaria a via depois de revezar na El Kabong e Nebulosa. Depois
outras questões apareceram, tive pericardite, o que me afastou por 3 meses da atividade física, Jessika teve um deslocamento de ombro, Bimbi se mudou para
Cipó, entre outros desencontros, e a ideia foi amornando.

Já tinha quase esquecido dela, quando a Bimbi recentemente nos convidou de novo para empreitada, e na hora ainda não me sentia pronta para via. Só depois que eu
consegui revezar na Décadence (Pico Maior) é que me senti preparada e então, mandei mensagem para Bimbi, que obviamente está voando na escalada e estava
mais que pronta. #partiusoma

Marcamos para domingo, dia 08/09, aproveitando uma visita da Bimbi ao Rio. Pegamos várias dicas preciosas com o Alex Tchê (conquistador) e com a Carol
Marteleto (que fez a via recentemente). Subimos no sábado, após o almoço e fomos direto fazer o reconhecimento da trilha e da base da via. Super recomendo esta
estratégia, porque embora seja trilha curta, há dois acessos e outras vias na proximidade, o que pode gerar confusão.

O acesso a trilha é pelo condomínio Vale da Mata (6.000), alguns Km depois do acesso da trilha do Cantagalo Oeste. Estaciona em uma rua sem saída, bem
próximo a pedra. A caminhada é fácil e dura cerca de 15 minutos.

 

Figura 1. Vista da pedra a partir do estacionamento

No domingo, levantamos as 4:10. A ideia era estar na base 5:45 para iniciar as 6h, e assim fizemos. Eu ficaria com os esticões ímpares e a Brabimbi com os pares
(que incluí o crux)

Figura 2. Base da via. Ciça a caminho da P1.

O início da escalada é tranquilo até P8. A partir da P9, a complexidade da via aumenta e o cansaço bate. A via é linda, super orgânica, seguindo uma linha natural
na rocha. Recomendamos que para entrar nela tem que estar guiando sexto grau confortavelmente.

A P1 é uma aderência mais clássica no início e depois a “abaulência” aparece. Lembra a escalada em Salinas. Esticão tranquilo e é preciso francesar o final se
estiver com corda de 60m. A P2 segue pelo friso natural da pedra em uma bela e longa diagonal, com bons pés e boa aderência.

Figura 3. Bimbi na diagonal da P2.

A P3 tem vários blocos com passadas altas nos abaulados. IV tranquilo e boa navegação. Na P4 aparece o primeiro V da via, um lance mais próximo da
parada dupla, onde tem que fazer uma montada num agarrão com pés na aderência. Esse esticão foi intermediado pelo Tchê para proteger esse lance,
então, tem uma proteção adicional em relação ao croqui das 50 clássicas. É um lance delicado.

Figura 4. Ciça na parada da P5. Bimbi participando.

P5 segue parecido com a P3, passadas de pé alto nos abaulados, sempre seguindo a diagonal de agarras que caracteriza a maior parte da via.

A P6 é apimentada. Começa em artificial nas primeiras 4 ou 5 chapas, porém na saída do artificial tem um lance de 6sup em diagonal que tem que ser feita em livre, não dá artificializar. O lance são passadas em aderência segurando pequenas agarras, até chegar em uma um pouco maior onde da pra sair da diagonal e tocar reto pra próxima proteção. Apesar de não ser artificial, é um lance super bem protegido, mas bem técnico. Depois desse lance, ainda tem um grampo antes da parada, com uma barriguinha negativa (já bem próximo mas dependendo da altura da pessoa não sei se seria artificializável, Bimbi usou panic pra chegar nele. Para vencer a barriga é tranquilo artificializando nesse grampo. Não tentamos fazer essa parte em livre.

A P7 segue na “abaulência” e tem umas passadas marotas de IV sup. Na P8, a Bimbi usou camalots médios para melhorar a proteção, principalmente na parte final. É uma parte relativamente tranquila, mas ficaria exposto sem móveis. No croqui original do Tchê, neste esticão também tem um lance de V. Fizemos a via até a P8 em 4 horas.
A P9 é apimentada também. Eu protegi em móvel entre a primeira e a segunda proteção. O lance de V é delicado. A partir da P9 nossa performance começou a cair
um pouco, mas já esperávamos isso.
A P10 começa em uma chapa fácil, porém a segunda chapa é escondida atrás de um mato. Deixa um pouco de dúvida pra onde ir, mas tem que tocar reto no mato e em algumas agarras no meio dele, que dá pra achar as duas próximas chapas. Depois disso ela toca um pouco pra direita e tem um lance de 5o grau estranho, um pouco mais aderência que os demais. Achei difícil este esticão. A parada da P10 é um platô, o melhor ponto de descanso da via. Chegamos ali cansadas e com calor. Paramos para comer e hidratar por alguns minutos.
O esticão da P11 foi bem desafiador para mim. O esticão começa com uma saída em V, não complexo, mas depois dele fiquei com dúvida para onde seguir. Tem um
platô confortável para direita, que dá muita vontade de seguir. Logo acima, há uma outra opção de caminho, mas com mais vegetação. Não dá para ver a próxima
proteção fixa. A proteção esperada é em móvel. Quase toquei para direita, mas parei para avaliar o croqui e discutir com a Bimbi. O croqui mostra uma saída leve
para direita e depois toca para cima, então, decidi arriscar e proteger uma fenda que parecia ser um caminho para o segundo platô. Felizmente estava certo. Depois
de alguns bons metros de diagonal consegui ver uma proteção fixa. Deu muito arrasto e você escala desviando de bromélias. Cheguei exausta na parada. Depois
conversando sobre a via com o Tchê, ele comentou que outros escaladores já se perderam neste esticão.

Figura 5. Ciça na parada dupla da P11.

P12 é outro desafio da via. O Tchê nos deu a dica de desescalar a segunda proteção e ir levemente para esquerda antes de subir em direção à próxima proteção que estará à
direita; E desescalar a quarta proteção, indo para direita. A 5a proteção é um grampo claro difícil de ver, bem horizontal, na mesma linha da 4a proteção, porém escondido atrás de uma barriguinha lateral. Não é muito óbvio qual caminho seguir, mas esse beta de desescalar e fazer a horizontal funcionou bem, e fica bem protegido para o guia. Bimbi seguiu as dicas. Deu uma escorregada na desescalada da quarta chapa, mas sem danos na queda. Quando eu fui participando, não desescalei na quarta e segui na diagonal para direita e me dei mal. A queda do participante é um belo pêndulo com um pequeno platô abaixo. Depois que saí para direita fica muito difícil desescalar e a proteção está longe. Para não ter uma queda descontrolada, que foi o que imaginava que
aconteceria, eu optei por escalar na diagonal o máximo que consegui e segurando em uma das cordas que Bimbi fixou na parada nesse momento, me joguei em direção a próxima proteção. Ufa, manobras feitas no veneno, mas com sucesso. Fica a dica: DESESCALE NA ALTURA DA QUARTA PROTEÇÃO E DEPOIS VÁ PARA DIREITA.

A P13 é uma caminhada, sempre próxima do diedro a sua esquerda. Não tem proteção, mas é super tranquilo. Depois de uns 20 metros, já dá para ver a proteção fixa na parede. Para primeira proteção é lance meio estranho, meio sujo, mas factível. Depois, fui bem para esquerda, perto da vegetação. Ali tem uma sequência de buracos para chegar na próxima proteção. Pelo croqui parece ser meio reto, mas é bem para esquerda.
Finalmente chegamos na P14, o crux. A pedra muda ali, tem uma coloração e aspecto diferentes. Tínhamos boas dicas de como fazer o lance. Basicamente é
preciso proteger a fenda, saindo para esquerda da parada. Essa fenda não é tão óbvia de ver, achamos difícil a leitura do lance se não tivéssemos betas. Dá a impressão de que tem que tocar reto e montar um platô, mas o beta correto é escalar pra esquerda, ficando “dentro” da fenda, e na parte onde ela é bem pequena, proteger em móvel. Bimbi mandou muito bem. Tínhamos levado algumas peças pequenas pra esse lance, pois sabíamos que era importante. Bimbi conseguiu colocar o .3 2x (levamos repetido) e um micro da rock empire, menor que o .3. Ficou superprotegido (daria tranquilo pra fazer com 2 peças, por exemplo, mas deu seguança ter as 3 pecinhas ali). A saída da fenda é um lance de 6sup, técnico e de equilíbrio, pois as agarras são todas abauladas e com pés pequenos. Se chega em um platô para acessar o artificial. O artificial é tranquilo, mas sair dele é delicado e exige leitura pois também tem um lance em livre antes da chegada na dupla.

Figura 6. Bimbi depois de ter mandado o crux.

P15 é outro B.O.! rs…já estava cansada e ainda ter que guiar Vsup é dureza. Acho que foi o esticão que mais demorei para guiar. Tem vários lances delicados. A dica nessa parte é fazer tudo com calma, descansar nas paradas e fazer boas leituras, pois o cansaço aumenta e a temperatura também, e a via continua um pouco exigente.

Figura 7. Ciça na parada dupla da P15

Iniciamos a P16 já em festa. Embora seja um V no início, as proteções estão bem próximas e percebemos que o trecho era curto, e logo depois entraria um III grau e
chegaríamos no cume. Completamos a via as 15:15, cansadas mas com o coração em festa.

Paramos no mato logo depois da parada dupla da P16 para arrumar as cordas e hidratar. Só depois partimos para cume, onde o Fred já estava nos esperando uma
bebidinha gelada para comemorar o feito. Ficamos quase 1 hora no cume descansando e aproveitando aquele momento único.

Figura 8. Cume

Assim que finalizamos a via, avisei o Tchê (que estava acompanhando nosso progresso) que havíamos feito cume e rapidamente ele nos parabenizou e informou
que éramos a primeira cordada feminina a completar a Soma. Que orgulho, que alegria!

A trilha de saída do cume é para esquerda. Está super bem-marcada, mas tem algumas bifurcações. Recomendo ter um track da trilha. Importante dizer que 2/3
da trilha de descida é trilha de motocross, bem chata de caminhar. Gastamos 1h 40m para descer. Completamos com a luz do dia.
Que via linda! Que conquista!
Abraços,
Ciça & Bimbi

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